O corpo de dentro e de fora
- Simone D. Marchesini
- 17 de nov. de 2020
- 2 min de leitura
Quando uma pessoa não é feliz com sua imagem corporal ela tem fortes desejos de não ter o corpo que tem. Existe desejo de esconder a forma física e evitar o contato. Há ansiedade em viver no próprio corpo, este mesmo do qual não é possível se livrar.

Isso não acontece só com pessoas acima do peso, mas com qualquer um que perceba a forma corporal de modo distorcido. Pode ser maior, menor, com defeito, com uma parte que não harmoniza ou que cause vergonha.
Os relatos de desencaixe entre corpo idealizado e imagem corporal se assemelham à experiência de estar trajando uma roupa inadequada da qual, o desejo maior, é desfazer-se o quanto antes. Apesar do mal estar causado, essa sensação não é capaz de motivar mudanças.
Um dos pontos centrais da imagem corporal é a distância entre o corpo fisico e a percepção que próprio indivíduo tem dele. As mudanças no sentido de aproximar imagem corporal e corpo idealizado não implicam em alterar a forma do corpo, mas mudar a percepção sobre ele. No entanto, o trabalho com a imagem corporal não exclui possíveis mudanças no corpo que auxiliem na harmonização do corpo físico. Alguns estudos têm mostrado o efeito da melhoria estética no estado de humor de pessoas com necessidade de correções. São exemplos as próteses dentárias, o uso de próteses de silicone em mulheres mastectomizadas e tatuagens em mamas que perderam o mamilo por alguma cirurgia.
Nesse aspecto temos um reflexo da correspondência entre as mudanças físicas e emocionais através do modo que o indivíduo passa a se conceituar. Manter os efeitos positivos dessa transformação cognitiva e perceptiva são desafios da prática diária da psicoterapia. É necessário, porém, ressaltar que o grau de distorção perceptiva e a magnitude dos fatores que o mantém interferem diretamente sobre o trabalho da psicoterapia.
O trabalho não é simples e nem de curto prazo. Estamos mexendo num carimbo mental que precisa ser reformatado e não pode e nem tem como ser apagado. Um registro de longa data estruturado sobre a história pessoal e alicerçado em memórias.
O corpo é muito mais do que essa imagem criticada pela estética. Ele é história.
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