Eu não quero mais comer deste jeito.
- Simone D. Marchesini
- 5 de set. de 2020
- 2 min de leitura
Atualizado: 13 de set. de 2020
Existem mecanismos que se entrecruzam no processo alimentar. São influências ambientais, orgânicas e de processos mentais, além de influências culturais.
O ambiente interfere ao oferecer mais ou menos estímulos que incentivam o consumo alimentar. Haja vista que ambientes que não oferecem alimentos naturais, frescos, com nutrientes disponíveis e acessibilidade de aquisição desses produtos são chamados de obesogênicos.
No aspecto orgânico, contamos com a fome e seus hormônios; os devidos mecanismos reguladores do gasto energético e manutenção da vida. Grelina, Leptina, GLP1,e tantos outros. Dos aspectos prazeirosos da alimentação destaque para os mecanismos de gratificação e recompensa: Área Tegmental Veltral, Núcleo Accumbens, Hipotalamo Lateral e todo o aparato psíquico que interfere sobre a regulação emocional da qual participa a comida.
Ainda nos processos mentais existe o apetite, que participa da citada regulação emocional. É à participação do alimento como recurso para aplacar o desconforto de emoções negativas e que é usado como estratégia não adaptativa de regulação das emoções.
Comer implica também em querer, em gostar e em buscar o alimento. Isso porque gostar de um alimento antecipa o prazer através da expectativa, e provoca o querer a partir da memória e em seguida ativa o ato de buscar. Mas em alimentos vistos pela primeira vez o processo se da de forma diferente. Não há apelo da memória e por isso ocorre maior resistência diante do novo.
Quando existe a busca sem previsão das consequências, e não existem forças internas para que ela seja inibida, ela se caracteriza como impulso. Isso é bastante perceptível na alimentação quando ocorre a busca da comida sem planejamento e sem resistência. A simples visualização de um alimento, ou da pista de um alimento, desencadeia a busca sem a capacidade de inibição.
Quando ocorre um planejamento alimentar, o início do ato se da de modo premeditado, mas após iniciado ocorre a repetição desmedida com incapacidade de interrompe-lo.
Um dos recursos utilizados para refrear o impulso, aumentar a capacidade inibitória e interromper o processo repetitivo são treinamentos de respiração e presença consciente durante o ato alimentar. Assim, comer em estado meditativo, sem que outros processos concorrentes atravessem a experiência de comer é uma estratégia amplamente utilizada. É um exercício diário e frequente para desautomatizar processos já instalados e gravados. Também ajudam a naturalizar um novo modo de se relacionar com a alimentação.
Um exercício simples é ritualizar o processo de comer. E mesmo que não seja uma refeição ou um ato planejado, e esteja fora do programa, antes de comer, faça a experiência de localizar três objetos próximos. Para cada objeto escolhido diga o nome do objeto e respire tranquilamente pelo nariz. Serão três inspirações e três expirações. Dessa forma haverá mais presença dentro do próprio corpo e menor interferência do mundo das ideias. Tente, a partir daí, simplesmente sentir o que está sentindo.
Se pegar-se num processo compulsivo, e portanto repetitivo, o treino é parar. Isso porque existem casos em que é necessário atuar antes de mudar o processo de pensamento, ou mesmo o modo de se sentir diante de um problema.
É importante saber interromper. Seja um pensamento inútil, seja uma palavra inadequada, seja uma alimentação ou compra excessivas, ou mesmo um relacionamento não saudável.
Simone Marchesini
CRP08/04760
41 3322-4960
@psymone.brazil

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