EMAGRECER COMO?
- Simone D. Marchesini
- 21 de fev. de 2020
- 3 min de leitura
Realmente não faz diferença nenhuma se você está dentro do seu padrão de peso e altura. O que interessa é sua relação com aquilo que come. Isso porque um número considerável de pessoas mantêm o peso que deseja através de métodos não saudáveis. Esses métodos envolvem excesso de exercícios físicos com sobrecarga, exercícios de alta intensidade e de impacto, jejuns, restrição de certos tipos de alimentos como gorduras e carboidratos que são necessários para o bom funcionamento dos neurônios, ingestão de termogênicos e medicações injetáveis para controle de diabetes, quando não inibidores comprados clandestinamente.

Vamos considerar alguns pontos de reflexão:
O relacionamento ruim com a alimentação começa com padrões de categorização de alimentos em proibidos e permitidos. A partir desse primeiro passo, ao ingerir o proibido sobrevém a crença de que o esforço despendido foi desperdiçado e o padrão de Tudo ou Nada assume o comando.
A categorização dos alimentos em bons e ruins geralmente iniciam com dietas rígidas, ou com a cultura familiar excessivamente perfeccionista e exigente em relação à forma corporal.
Quando a estética corporal é excessivamente valorizada a pessoa fica vinculada quase que exclusivamente à beleza, à magreza e à capacidade de autocontrole e perfeição.
O padrão Tudo ou Nada é tipicamente perfeccionista e impede a valorização de pequenas conquistas. Além disso, retroalimenta a culpa e a ansiedade, pois leva à estaca zero a conquista desejada. Além disso faz com que a pessoa em questão lance mão de recursos do tipo Tudo (-Agora que já saí da dieta...) para compensar a conquista que não foi Nada ( -Não consigo fazer direito!). Esta maneira de funcionar alimenta a autoavaliação negativa, diminui a autoestima e tende a levar à visão catastrófica do “Nada da certo para mim!”
Como foi visto, tudo começa com a categorização de certo e errado e o corpo entra nesse estreito filtro também. Se a pessoa está magra, se conceitua como bonita. Se sua percepção de si é gorda, então está feia. Bonita ela merece sair e se divertir; feia não. É tudo preto ou branco, o que faz perder qualquer cor ou tom intermediário. Além disso, a variação depende do estado afetivo em que a pessoa se encontra.
A crítica é colocada nos olhos dos outros, a censura é colocada no olhar alheio, o isolamento é traduzido como rejeição e a valoração do indivíduo também está projetada no outro. Ele se coloca em isolamento, condição que a leva a conhecida estratégia de enfrentamento dos conflitos: comer.
É claro que comer é um prazer, mas para quem tem uma relação tão ruim com a alimentação passa a ser um stress de alta valência. Existem duas saídas: ou a pessoa come impulsivamente sem pensar nas consequências, ou ela come já em sofrimento por pensar no que terá de fazer para compensar o que comeu.
O trabalho psicológico é custoso, pois é preciso testar e refutar inúmeras crenças de que alimentos são categorizáveis em bons e ruins, mas antes funcionam conforme a quantidade ingerida. Também implica na dissolução do padrão tudo ou nada, que sustenta o problema. Há um árduo trabalho para aprimorar a imagem corporal, através de noções de fome, saciedade, vazio, cheio e satisfeito. A valorização das funções corporais e a gratidão pelo corpo funcional são recursos utilizados. Outro viés é a cultura da gentileza ao próprio corpo.
Esse trabalho exige tempo e dedicação.
É importante lembrar que não há psicoterapia se o cliente não participar.
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