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ENTREVISTA SOBRE CIRURGIA BARIÁTRICA em Jovens e Adolescentes


Qual é a idade mínima para um adolescente/jovem se submeter a uma cirurgia bariátrica, do ponto de vista psicológico?

Do ponto de vista psicológico o que é analisado não é a cronologia, isso é a idade em anos, mas a maturidade emocional e a capacidade cognitiva de avaliar a escolha que está sendo feita. A opção pela cirurgia envolve a capacidade de aderir a um novo modo de viver e existir, com novos hábitos, nova identidade corporal, novo retorno social em resposta à figura identitária e capacidade de frear impulsos diante dos estímulos aprazíveis como comida, bebida, sexo e drogas. Existem testes psicológicos que ajudam avaliar as respostas impulsivas e a compulsão da pessoa, mas a percepção clínica e a anamnese são fundamentais.

A idade anterior era 18 anos, mas passou a 16 por causa das transformações hormonais normais da adolescência que podem ser bloqueadas devido ao excesso de gordura. Os meninos desenvolvem mama e não engrossam a voz. As meninas têm ovários policísticos, ficam com problemas menstruais, pelos no rosto. Isso causa transtornos psicológicos graves no convívio com os iguais.

Mas é importante observar que os pais e responsáveis precisam e devem participar do tratamento antes, durante e depois da cirurgia bariátrica.

Bariátrica é um jeito de viver.

Como saber se todas as tentativas menos invasivas, como dietas, reeducação alimentar, e demais tratamentos clínicos não deram certo para então, partir para uma cirurgia?

Existe um protocolo de dois anos de tratamento clínico da obesidade antes da opção pela cirurgia. Mesmo no adulto há exigências desse critério. O trabalho multidisciplinar é importante para que o endocrinologista e o nutricionista transmitam seu parecer sobre o comportamento alimentar do jovem e também sobre os exames laboratoriais que mostram a qualidade alimentar ingerida. A entrevista com familiares também revela os hábitos reais do jovem candidato.

O profissional da educação física e o ortopedista também são importantes para dar o perfil de adesão e empenho desse jovem nas práticas esportivas. O exame de bioimpedância nos diz quanto a pessoa possui de músculo e ossos, água e gordura no corpo. O excesso de exercícios, lesões ou mesmo exames com alterações extremas podem sugerir a presença de Transtornos Alimentares com a presença de vômitos ou práticas esportivas excessivas que provocam lesões ósseas e musculares.

Geralmente, não são os jovens que vão fazer tratamento psicológico quando decidem fazer a cirurgia, não seria ideal fazer acompanhamento terapêutico antes, quando estão tentando emagrecer por métodos não invasivos para ajudar no processo de mudança de comportamento?

Está pergunta é óbvia e serve não apenas para o jovem. Por definição a obesidade é uma doença multifatorial e requer tratamento também psicológico. Toda mudança é difícil.

No campo psicológico, por algum motivo, o controle da vontade é roubado e o impulso de comer se torna mais poderoso que o freio, mesmo que a pessoa queira perder peso. O prazer imediato de comer tende a ganhar do prazer demorado de emagrecer.

Para quem olha de fora parece sem-vergonhice, mas pensando em equilíbrio de forças, algo está roubando a atenção e foco do controle alimentar.

A falta de prazeres na vida, a solidão, o pensamento absorto em questões a serem resolvidos, medos exagerados ou qualquer situação como provas, brigas dos pais, sentimento de rejeição, bullying, pode roubar a energia da tal ”vontade”.

O jovem não enxerga o longo prazo e a gratificação imediata do “aqui e já” vence sempre.

Alguns estudos mostram que muitos bariátricos, principalmente jovens, acabam trocando o vício pela comida por outros, como álcool ou até drogas. Como evitar isso, como trabalhar tudo isso?

O álcool, a bebida, sofre influências da técnica da cirurgia que muda a absorção alimentar. Sendo assim, aquela bebida alcoólica que seria absorvida com a comida que a pessoa ingeriu será absorvida sem os mesmos nutrientes. É como beber sem nada no estômago.

Somado a isso você tem os seguintes fatores sociais:

  1. O jovem que antes se isolava por vergonha, inadequação, falta de roupa e até falta de companhia agora se sente parte do grupo e passa a ser integrado. Passa a ser aceito como mais um igual. Quer beber igual e sem restrições.

  2. Esse beber igual não é beber pouco. De acordo com estatísticas atuais você verá que a ingestão alcoólica começa entre 12 a 14 anos. O mesmo período em que conhecem as drogas. Período em que o cérebro não tem freios.

Trabalhar a gratificação em longo prazo é constante na nossa sociedade e começa desde a infância. Nós, como pais, precisamos aprender a frustrar e saber que frustrar não é falta de amor. Ao contrário. É preparo para a vida

Entrevistamos alguns jovens que fizeram a cirurgia e disseram que acharam que os traumas iriam passar com um novo corpo e continuam a se sentir mal consigo mesmo, falam que não se encaixam no novo corpo:? Pq acontece isso? O que faltou?

O corpo faz, ao longo do tempo, um carimbo no cérebro de como somos. Isso acontece ao longo da estruturação da personalidade. A noção do EU agrupa as características psicológicas, físicas, psicológicas, sociais, familiares e culturais.

Quando você muda o corpo de uma pessoa em 6 meses, é ingenuidade pensar que esse carimbo irá mudar também, de modo tão ligeiro. É preciso substituir toda memória de registro corporal sem apagar a história numa amnésia.

Nem as pessoas no dia-a-dia reconhecem a pessoa operada e emagrecida pelo procedimento. É muita mudança.

Além disso, o mundo e o contexto social continuam iguais, quase que exigindo que ela seja a mesma.

Como assim ela quer sair mais? Como assim ela quer namorar mais? Como assim ela quer viver o tempo perdido dentro da gordura? Como assim ela não quem mais saber só dos pais e do estudo?

Nos Estados Unidos em 1991 foi instituída a obrigatoriedade da avaliação psicológica para a cirurgia bariátrica porque ela era comparada à cirurgia de redesignação sexual. Uma mudança para toda a vida é que muda a identidade da pessoa, bem como a resposta da sociedade a ela.

Quando que os pais podem perceber que uma criança terá problemas de compulsão de comida devem começa a pensar a procurar uma ajuda psicológica?

Sim, sempre. Para a criança e para elas. Alguma coisa não vai bem. Raramente a compulsão alimentar vem sozinha. Existe ansiedade, preocupação e sofrimento aí!

Comportamentos como alimentação restrita a um único grupo alimentar, roer unhas constantemente, medos irracionais, excesso de preocupação com a forma corporal, medo de não ser aprovado pelos outros que já aparece no pavor de provas e apresentações escolares. O perfeccionismo é um elemento importante, mas não é uma linha de causa e efeito lógica.

O tratamento psicológico para bariátricos começa e termina quando?

Temos que diferenciar tratamento psicológico de avaliação psicológica.

A avaliação é exigência dos convênios e responsabilidade para proteção do paciente. A avaliação envolve consultas para coleta de dados e emissão de um parecer para o paciente, para o convênio e para o médico no sentido de que haja boa evolução pós-operatória. Mas devemos lembrar que a pessoa humana não é uma rocha. Alguém bem hoje pode entrar em crise amanhã. Não há previsibilidade lógica.

Tratamento Psicológico é de opção do paciente. Todos nós podemos querer fazer psicoterapia para nos conhecermos ou para operar mudanças, independente de fazer ou não uma cirurgia bariátrica.

Assim que os pais observarem medos irracionais, roer unhas, insônias, dificuldade em se separar dos pais, perfeccionismo, comportamento excessivamente metódico ou semelhanças com os familiares que sofrem, devem buscar psicoterapia. Psicoterapia é para quem sofre e não só para quem faz cirurgia.

Existe uma pergunta muito comum. “- A Doutora atende gente normal que não é de Bariatrica?”

Eu respondo: “-Eu atendi gente. Fazer Bariatrica é só um evento na vida de uma pessoa.”

Coluna Saúde em Foco- Bem Paraná

ENTREVISTADO: RAJOSIANE RITZ

ENTREVISTADA: SIMONE MARCHESINI – PSICÓLOGA CLÍNICA E BARIÁTRICA

ATUAÇÃO EM OBESIDADE E BARIÁTRICA DESDE 1994 (AMBULATÓRIO DE TRANSTORNOS ALIMENTARES: HC-UFPR (1994-1996) E CIRURGIA BARIÁTRICA EM CLÍNICA PRIVADA 1995 ATÉ OS DIAS ATUAIS)

PSICÓLOGA BARIÁTRICA

ESPECIALIDADES- PSICOLOGIA CLÍNICA- UFPR, 1995;

PSICOLOGIA ANALÍTICA- PUC-PR, 1996;

MESTRADO EM PSICOLOGIA-UTP, 2013.

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    Psicóloga
    Mestre em Psicologia

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