IMPULSOS E COMPORTAMENTO
- Simone D. Marchesini
- 26 de mar. de 2018
- 3 min de leitura
Os impulsos no ser humano, são altamente explorados pelo comércio para a produção e venda de seus produtos. Para isso, o conhecimento dos cinco sentidos e dos mecanismos cerebrais de resposta à sugestão psicológica são essenciais. Alguns estudos simples foram realizados nesse sentido. Exemplo foi a palestra sobre comunicação em que a presença da mensagem subliminar “beba água” nos slides promoveu uma ingestão 2 vezes maior desse líquido terminada a aula. E também a comprovação de que mercadorias posicionadas na altura dos olhos do consumidor são as mais vendidas, independente de sua marca ou qualidade. As influências de textura, cheiro, paladar, visual ( cor, desenho e forma), som da embalagem e do próprio produto ao ser consumido mostram o quanto nossos sentidos são explorados diariamente, e também a importância da nossa consciência em qualquer consumo.
A curiosidade é outro fator importante que vem sendo explorada. Haja vista o que ocorre nas redes sociais. Elas preenchem os mesmos princípios das novelas e do velho conto das “Mil é Uma Noites”. Por não suportarmos a gestalt inacabada, a história sem fim, nos colocamos para olhar infinitas vezes para conferir o andamento do processo. E assim, reforçamos com excitação nossa psique de criança, que espia para ver e saber mais, e passar adiante, sua mais nova descoberta.
Mas contamos com as doenças do impulso. Aqueles impulsos destrutivos hipertrofiados e outros, inflamados e potentes. Os adoentados requerem atenção quanto a respostas a críticas ou qualquer autoavaliação denegrida. Os excitados e hipertrofiados são exacerbados em suas respostas diante de um mínimo estímulo.
Vejamos:
Um comprador patológico se apoia na falta de oferta ou no bom preço da mercadoria para comprar 20 pacotes de torradas. Sua justificativa racional foi o bom preço e o início da dieta. A impulsividade fica nítida a olhos nus. Uma jovem senhora se vê entregue e apaixonada diante de um cumprimento, um bom dia do vizinho que ela interpreta como interesse nela. Passa a olhar o olho mágico para encontrar-se "acidentalmente" com ele todas as manhãs. Um jovem desiste do emprego porque recebeu uma crítica, a primeira após seis meses de trabalho. Para ele, essa reprovação era a prova total de sua incompetência e motivo para não voltar no dia seguinte. Os impulsos têm fator de motivo externo, mas a mola propulsora principal é interna. O que determina a ação é a interpretação interna validada como única e real, sem espaço para diálogo ou crescimento.
A resposta hipertrofiada do impulsivo, em geral, leva a atitudes que o próprio indivíduo não tolera segurar. É uma resposta somada a fatores outros, que se adiciona do que vem do social ao histórico e pessoal como subjetividade.

A autocompreensão e a autocompaixão são dois pontos essenciais desse crescimento para que culpa e a autocomiseração não determinem as próprias escolhas.
O princípio da autocompaixao não é fácil para quem está identificado com seu impulso ou com sua dor. Ele exige um exercício de distanciamento para depois haver a aproximação e a troca de papéis. No caso da compaixão autodirecionada eu mesmo sou o outro com quem troco de papel, mas sobre quem lanço olhar mais distanciado e mais afetivo. O treinamento do olhar distanciado permite a “desidentificação” com o impulso para poder visualiza-lo e depois anima-lo ( dar-lhe vida). Quando me torno capaz de dar vida ao inanimado, começo a agir como os alquimistas que C.G. Jung estudou. Neles, Jung percebeu que o trabalho externo e o interno não existiam separados. Essa divisão é uma visão de ego que precisa separar para entender e se tranquilizar. O mesmo que continuamos fazendo até hoje quando insistimos em negar que o corpo é apenas uma outra forma de ser da psique e a psique uma outra fala do corpo; o tal erro de Descartes.
Os impulsos serão então vividos e concretizados no corpo se não houver distanciamento e simbolização do que está sendo experimentado. A proposta que une Psicologia, Meditação e Filosofia para a harmonia do ser integral pede maior abertura da percepção não identificada com o impulso.
Metthieu Ricard, monge budista e amigo de Dalai Lama, explica que " O budista usa o termo klesha para se referir às emoções destrutivas ou negativas - não em nome de um julgamento moral, mas porque elas geram sofrimento" e ressalta que se você deixar uma emoção explodir toda vez que ela surgir, haverá o reforço desse impulso vital motivador. Tanto a raiva quanto a os impulsos de prazer como sexo, compras, lutas ou comida. Esses movimentos vão requerer mais e mais reforço.
Mas é importante compreender que não se trata de responder ao instinto e simplesmente ceder ao impulso. Deixá-lo vir e segui-lo. Mas respira-lo e conte-lo para compreender seu significado essencial. Acolhê-lo, segurá-lo, tranquilizá-lo como quem faz com um bichinho assustado. Uma criança com medo.
Simone Marchesini CRP 08/04760
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