Imagem Corporal
- Simone Marchesini CRP:08/0476008/04760
- 23 de fev. de 2018
- 3 min de leitura
Imagem Corporal, Esquema Corporal, Auto-estima, Distúrbio da Imagem Corporal, Imagem Corporal Distorcida. Todos esses conceitos e outros tantos estão envolvidos no trabalho de quem trata a falta de sintonia entre mente e corpo. São temas frequentes em clínicas de emagrecimento, academias de ginástica, clínicas de estética, consultórios de cirurgiões bariátricos e plásticos, consultórios de nutricionistas, psiquiatras, psicólogos e fisioterapeutas, além de provadores de lojas.
Uma questão importante é entender que somos construídos ao longo do tempo sobre uma base orgânica que nos é dada, que é nosso engrama genético. Jung , que foi um psiquiatra e psicoterapeuta suíço e que fundou a psicologia analítica, batizou o correlato psíquico desse engrama genético de arquétipo, neste caso específico, o arquétipo familiar.
Sobre esse engrama experimentamos nossas vivências pessoais. Cada um com sua própria história e com seus nós emocionais. Esses nós emocionais ficam carregados de energia e passam a constituir um aprisionamento de fluxo psíquico que antes poderia ser investido de modo criativo. Quando aprisionada, essa energia contribui para o surgimento de doenças.
Conforme a história, o ambiente, as condições vividas, a manifestação arquetípica ( ou expressão gênica) as características serão mais expressivas ou manifestas com diferentes nuances. Assim, todos fomos programados para crescer, pois é da espécie. Cada qual terá um crescimento específico conforme sua história e ambiente.
De acordo com essa combinação entre herança e ambiente teremos a expressão da combinação única: cada ser humano. Desse modo, ocorre a construção de diferentes doenças, uma delas, a obesidade. Também são do grupo das doenças que envolvem imagem corporal a bulimia e a anorexia nervosas e compulsão alimentar.
Quando se dão o crescimento do corpo e a maturação para o surgimento dos caracteres sexuais secundários, muitos indivíduos não registram esses processos como algo incisivo ou traumático. É uma vivência gradual e progressiva. Algumas mulheres, no entanto, ainda têm a vivencia da menarca ou do crescimento das mamas como divisor de águas. A partir de sua qualificação como férteis "mocinhas" seu comportamento passa a ser exigido de forma distinto pela sociedade. Também seu corpo passa a sofrer expectativas sociais distintas e sua conotação de objeto de desejo é introjetado.
Mulheres entrevistadas para a cirurgia bariátrica que tiveram obesidade desde a infância declararam importarem-se com o excesso de peso e a forma corporal a partir dos 12 anos de idade, quando começaram a se comparar com seus pares. Quando a percepção vinha antes, ela se dava através da mãe que conduzia a criança a tratamentos para perda de peso. O registro do conceito de si próprias como gordas e a proibição de se alimentarem como as demais crianças exerceram forte impacto, formando um nó complexo afetivo em torno de suas imagens.
Construído o conceito sobre si mesmos como alguém com defeito e com menos valor, seja por ser obeso ou deficiente, a pessoa se auto-qualifica como objeto a ser corrigido e consertado. Sua energia psíquica fica aprisionada e impedida de fluir para as transformações ao longo do tempo e da história. A imagem externa muda, mas a interna permanece.
Temos múltiplos casos de indivíduos que por mais que percam peso, não conseguem se desprender da sensação de inadequação. Ou cada vez que sofrem reprovação revivem a experiência de estarem gordos.
Processos de emagrecimento excessivamente rápidos e que promovem mudanças súbitas na imagem corporal exercem função de dissonância cognitiva nos indivíduos que os experimentam. Estes processos são comumente comparados ao fenômeno do membro fantasma estudado pelo cirurgião francês Ambroise Paré. Essa vivência resume-se à dor, ardência ou prurido num membro amputado, ou seja, na experiência viva de sentir uma parte do corpo que já não existe.
O trabalho com meditação do tipo mindfulness, danças expressivas, massagens terapêuticas, consciência corporal através da dança, Yoga, terapia através do movimento, eutonia e as demais "somatoterapias" têm demonstrado serem recursos ricos no que tange à reconstrução da imagem corporal. Conteúdos emergentes devem ser trabalhados em psicoterapia individual; em casos necessários o recurso da psiquiatria também deve ser solicitado.
Todo o discorrido acima veio do elemento de maior queixa entre as pessoas que experimentam o emagrecimento. A saber: não conseguirem acessar a percepção de magros após perda de grande montante de peso e medo pronunciado de recuperarem peso. Este último elemento confirma o quão traumática é a experiência física e emocional da obesidade.
Seja qual for a experiência corporal, sua assimilação deve ser processada com auxílio de técnicas que operem na linguagem não verbal. Do igual para o igual. São também difíceis a transformação das gestações e a menopausa nas mulheres bem como o envelhecimento para todos.

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