Cirurgia Metabólica. É nova mesmo?
- Simone D. Marchesini
- 3 de nov. de 2017
- 2 min de leitura
Com o reconhecimento da cirurgia metabólica, aquela recomendada para pessoas com Diabetes tipo II e, portanto, encontrada também em pessoas com IMC (índice de massa corporal) a partir dos 30, surgem algumas perguntas. Uma delas é sobre o preparo e acompanhamento psicológico desse grupo de pacientes. Em geral, composto por pessoas que já convivem com um diagnóstico difícil, a Diabetes, estas pessoas têm uma história de proibições e imposição de limites que nem sempre são respeitados. Como todo diagnóstico, o de diabetes passa por sua fase de negação. O que é natural. A negação é uma defesa Psicológica que protege o ego em relação às realidades difíceis de enfrentar. Então, a cirurgia não muda, o que muda é nosso cenário e nosso cliente, e portanto, toda a realidade psicológica que o cerca. A Dra. Elisabeth Kübler-Ross descreveu brilhantemente em seu trabalho junto a pacientes sob cuidados paliativos as fases de aceitação de uma doença grave e/ou crônica. São elas: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Pacientes com Diabetes tipo II têm fatores genéticos implicados, mas principalmente estilo de vida envolvido em seu diagnóstico. Sendo assim, negar, ter raiva da situação que os assolou, querer barganhar e deprimir por culpa são fases conhecidas nesse enfrentamento. Na fase de negação e raiva acontecem tendências de não haver aderência aos tratamentos e até acontecer o abuso de alimentos prejudiciais, bebida alcoólica e estilo de vida insalubre. Na fase da barganha, ocorre a busca de múltiplas terapias e apelo a recursos alternativos. Na fase da depressão, ocorre a revisão da existência, o que pode ser a possibilidade de mudança quando há terapêutica eficaz. E na fase da aceitação, uma maturidade ideal; essa nem sempre alcançada. Importante ressaltar que essas fases não são estanques. Em pacientes sob cuidados paliativos a barganha é feita com Deus. Nas doenças potencialmente curáveis esse Deus é projetado no médico. É para ele e sua equipe que são feitas promessas em troca de cura. O trabalho do psicólogo torna-se importante como profissional que está a serviço da reflexão. Não podemos cair nesse mecanismo projetivo e nem nos cabe alavancar defesas magico-onipotentes, como diria Melanie Klein. É de conhecimento de cirurgiões já atuantes nessa área, e dos psicólogos há anos em equipes bariátricas, que quanto mais antigo o diagnóstico de Diabetes tipo II, mais comprometidas estão as células Beta do pâncreas e menos promissoras as respostas cirúrgicas. E ao contrário dos pacientes bariátricos obesos com IMC de 35 ou acima a estética nem sempre será reforço positivo. Ao contrario, devido ao baixo peso pré-cirúrgico, podem se ressentir do resultado estético num primeiro momento. É necessário mergulhar um pouco na depressão da doença crônica, na responsabilidade por fazer parte dela, na aceitação das mudanças, nas trocas pertinentes às possibilidades antes de partir para essa jornada incerta. A cirurgia metabólica dá esperanças, mas não dá certezas e exige mudanças de "modus vivendi". Simone Marchesini CRP 08/04760

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