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Existe Obeso Saudável?

Obeso saudável. É possível?

Simone Dallegrave Marchesini

CRP:08/04760

Psicóloga ex Presidente das COESAS-SBCBM

Ex-Coordenadora da Comissão de Psicologia das COESAS-SBCBM

Especializada em Psicologia Clínica e Psicologia Analítica

Estudos livres em Neurociência e

Mestre em Psicologia

Psicóloga da Equipe do Dr. João Batista Marchesini

Atuou com Balão intragástrico desde 1998

Plasma de Argônio endoscópico de 2012 a 2016

Experiência em Psicologia em Bariátrica desde 1995

A possibilidade de indivíduos obesos serem saudáveis vem sendo questionada já há algum tempo. Do ponto de vista do funcionamento cerebral, pessoas obesas têm demonstrado maior desinibição do funcionamento de áreas cerebrais como o córtex cingulado anterior e córtex pré-frontal medial. Segundo autores (1) essa desinibição (córtex cingulado) acontece antes da refeição e o relato pessoal desses indivíduos é de fome (córtex pré-frontal medial). Esses achados que foram feitos com ressonância magnética funcional apenas comprovam o que vemos na prática diária com pessoas que sofrem com a obesidade.

Os resultados desses estudos com mapeamento cerebral indicam que a motivação diante da comida é diferente entre obesos e indivíduos não obesos. E que mecanismos neurofisiológicos ainda contribuirão para a compreensão da obesidade. Desvendar a variabilidade de respostas às intervenções dietéticas tem sido um dos focos da ciência do metabolismo.

Mas um estudo de mais de dez anos incitou essa polêmica. O estudo conduzido por Caroline Kramer(2) comparou o peso de indivíduos e o risco de sofrerem eventos adversos, mas não direcionou o foco para o estado metabólico dessas pessoas. Foi considerada a possibilidade de que alguns indivíduos de aparência saudável, mas com peso excessivo tivessem apresentado sintomas e sinais de doenças associadas que não foram devidamente diagnosticadas. A informação da coexistência da saúde com a obesidade divulgada pela revista TIME de dezembro de 2013 deu poder ao garfo dos que apreciam uma boa comida. Mas a revisão científica de estudos realizados desde os anos 50 mostraram que obesidade e saúde são incompatíveis.

A"obesidade benigna" ou "obesidade metabolicamente saudável" seria aquela que não se oferecesse um risco maior de morrer mais cedo ou de ter problemas relacionados com o coração em relação àqueles que mantém o peso e o metabolismo em padrões saudáveis. Essa imagem reforça a fantasia do indivíduo obeso que não é afetado pelas consequências do seu vício, como o fumante de pulmão limpo ou o alcoolista com o fígado em plenas funções. O melhor de todo consumo desenfreado é acreditar que seu "vício" não traz más consequências. A fantasia da imunidade.

A principal crítica traçada aos estudos que defendem a ideia do obeso saudável apontou dados comparativos falhos. Mostrou que apenas comparações entre obesos saudáveis ​e obesos não saudáveis foram realizadas. Mas a variante peso normal não foi considerada e não houve comparação entre pessoas de peso normal ou saudáveis com obesos saudáveis. Outros estudos contaram com amostras pequenas ou com seguimento de curto espaço de tempo

A obesidade não é igual para todos e a genética para ela ou para transtornos mentais, que acentuam o consumo alimentar, também não. A diferença de exposição ao ambiente determina o estudo da Epigenética, i.é, o quanto o meio interfere na expressão dos genes. O uso de medicações, exposição a dietas não saudáveis ​, falta de exercícios físicos, presença da experiência de privação alimentar, privação de sono e eventos existenciais são fatores a serem considerados.

Estudos recentes como o de Alizai et al. 2015(3) que tiveram a duração de 1 ano e 11 meses mostraram resultados relevantes para a área do estado psicossocial do paciente obeso. Dos 159 pacientes candidatos à cirurgia bariátrica e que foram submetidos à avaliação pré-cirúrgica com o Questionário de Saúde do Paciente (QSP) para triagem de prevalência de comorbidade psicossocial, 84% recebeu resultado positivo para pelo menos uma doença mental.

Considerando-se que a obesidade mórbida é um estado inflamatório de todo o organismo, esses pacientes estudados que tinham IMC = 49kg/m 2 com idade em torno dos 42 anos, teriam de ser investigados em sua história pregressa de doença mental e melhorar dela após o emagrecimento.

Colles et al (4 ) obtiveram resultados significativos em seus estudos quanto à presença de stress em pacientes obesos mórbidos. Como comportamento provocador de grande nível de stress o mais apontado foi a perda de controle ao comer (LOC). (5)A sensação de perda de controle equivaleria no ser humano à sensação de estar num carro acelerado e sem freios, e sem a menor perspectiva de conseguir parar. A impossibilidade de segurar o impulso é desestruturante para quem o vivencia e os pacientes obesos que apresentam LOC têm a expectativa de que a cirurgia bariátrica os barre nessa propulsão.

Os pacientes obesos mórbidos que apresentam compulsão alimentar, segundo

Goldschmidt et al 2015 (6) são os que mais referem perda de controle alimentar antes da refeição e o efeito avaliado como intensamente negativo após a refeição. Os pacientes que apresentam compulsão alimentar com LOC são os mais propensos a fazerem reganho de peso (7), seja qual for o método utilizado para perdê-lo, mesmo a cirurgia bariátrica.

É fato que a perda de peso melhora a autoestima, readapta a pessoa ao meio, reinsere o indivíduo na convivência social e devolve a ele o sentido de pertença ao grupo. O sentimento de exclusão é um dos mais difíceis de serem elaborados e vem de experiências básicas, familiares e estruturantes.

Do ponto de vista da saúde mental parece impossível termos um obeso saudável se forem considerados os fatores acima citados. A vivência de um corpo grande e que serve como elemento de exclusão e sacrifícios deixa marcas difíceis de serem apagadas. É mais fácil tirar a gordura do corpo do que da mente.

Referências:

Martin L E, Holsen L M, Chambers, Bruce A S, Brooks W M, Zarcone J R, ButlerM G e Savage CR ¨Neural Mechanisms Associated With Food Motivation in Obese and Healthy Weight Adults" Obesity (2010) 18, 254–260. doi:10.1038/oby.2009.220 http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1038/oby.2009.220/epdf

Kramer C K, Zinman B Are Metabolically Healthy Overweight and Obesity Benign Conditions? A Systematic Review and Meta-analysis of the Effect of Body Mass Index and Metabolic Status Phenotypes on All-cause Mortality and Cardiovascular Events Internal Medicine, December 2

http://www.mountsinai.on.ca/about_us/news/2013-news/2018healthy-obesity2019-is-a-myth-say-researchers-at-mount-sinai-hospital#sthash.I60SKp1L.dpufAnnals

Alizai et al. Presurgical assessment of bariatric patients with the Patient Health Questionnaire (PHQ)—A screening of the prevalence of psychosocial comorbidity Health and Quality of Life Outcomes (2015) 13:80 DOI 10.1186/s12955-015-0278-5 http://www.biomedcentral.com/content/pdf/s12955-015-0278-5.pdf

Colles SL, Dixon JB, O’Brien PE. Grazing and loss of control related to eating: two high-risk factors following bariatric surgery. Obesity. 2008; 16:615–622. [PubMed:18239603]

Calderone A et al.Exploring the concept of eating dyscontrol in severely obese patients candidate to bariatric surgery clinical obesity 2014 doi: 10.1111/cob.12080 2015 World Obesity. clinical obesity 5, 22–30 http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/cob.12080/epdf

Goldschmidt AB, Engel SG, Wonderlich SA et al. Momentary

affect surrounding loss of control and overeating in obese adults

with and without binge eating disorder. Obesity (Silver Spring)

2012; 20: 1206–1211

Kalarchian MA, Marcus MD, Wilson GT et al. Binge eating

among gastric bypass patients at long-term follow-up. Obes Surg

2002; 12: 270–275. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/11975227

 
 
 

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