Sentimento Visceral
- Simone D. Marchesini
- 1 de set. de 2017
- 2 min de leitura
Em nossa sociedade ocidental somos educados e condicionados a valorizar aquilo que vem do raciocínio. O pensamento é louvado como o meio de esforço e qualidade daquele que atinge o sucesso. É sinônimo de inteligência. Foi somente em tempo recentes que nossa cultura se abriu para as inteligências múltiplas e para o conhecimento do chamado "lado direito do cérebro".
O lado direito do cérebro seria aquele que não é regido pela linguagem verbal, mas pelo esquema espacial, pela criatividade, pela emoção e pela intuição. Essa última, chamada de gut feeling em inglês.
O interessante na palavra americana que designa intuição é que gut significa intestino e feeling é sentimento, sensibilidade ou impressão. Isso daria um significado como impressão intestinal, ou sentimento visceral. Aquele embrulho, aquele ruim, aquela gastura, aquele "sem nome" que acomete algumas pessoas que são atentas a essas sensações.
O campo da saúde humana deu uma reviravolta tanto quanto a visão da inteligência. Sair do verbal para o intuitivo foi uma revolução tanto quanto virar o corpo de cabeça para baixo e inverter a posição de comando com o segundo cérebro, o intestino. A descoberta de que a microbiota intestinal interfere em múltiplas doenças, inclusive em doenças psíquicas, traz a importância do estilo de vida e devolve ao homem a responsabilidade sobre sua saúde.
É fato que o apetite e a vontade são determinados por neurotransmissores e neuromoduladores, mas também aí o estilo de vida interfere. A plasticidade cerebral fornece instrumentos para que ao interagir com o funcionamento do cérebro, sua função e estrutura se transformem. E nesse sentido a meditação do tipo "mindfulness" veio para desacelerar a ansiedade ocidental.
O ocidente foi

então confrontado com inteligência não racional, sistema nervoso entérico, aceitação da neuroplasticidade, meditação, tratamento por mudança de estilo de vida e desaceleração. Todos esses elementos estão reclamando seu espaço junto à psicoterapia, que ainda sofre resistência.
Inúmeros são os que acham a Psicologia e a psicoterapia essenciais para a vida do ser humano, mas não se submetem ao processo. Dentro da própria profissão colegas estudam, mas não procuram um colega. Ainda há um engano a respeito desse "tratamento" do qual se sai sem recomendação.
A obesidade, doença do corpo inflamado e hipertrofiado tem mostrado o que é preciso acontecer: deixar o corpo falar. Daqui para frente a apreensão do mundo não poderá ser apenas intelectiva. O sentimento visceral perante as vivências terá de ser conectado. Será necessária a fala das bactérias do intestino, das células que se inflamam, das veias e artérias que correm o corpo e o resgate do que foi abandonado. É época de retorno ao toque, à escuta, e ao olfato na clínica. Época de atenção plena.
Simone Marchesini
CRP:08/04760
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