Solidão, as decepções da vida e o lugar da comida.
- Simone Marchesini CRP:08/0476008/04760
- 1 de ago. de 2017
- 2 min de leitura
Se existem emoções que nos engordam, duas delas são a solidão e as decepções da vida. Administrar a solidão não é fácil, pois desde criança sabemos que "mente vazia é oficina do inimigo". Ou bem aprendemos a preencher o vazio com criatividade, ou ele se ocupa de tudo que causa ansiedade. Para estragar um relacionamento, basta que um esteja desocupado.
A solidão, dizem os poetas, não é o mesmo que estar só. Mas estar só alimenta em muito a solidão. Haja vista que as redes sociais estão saturadas após o horário de expediente e as madrugadas estão repletas de internautas insones, solitários.

Estar só e sentir solidão já são decepções da vida. Chegamos a uma das esquinas de nosso tema. Ninguém sonha a solidão. Todos vieram da tenra infância com planos de encontrar alguém. É no trajeto tortuoso da existência que começamos a desistir de sonhos e ver os planos como delírios.
A sensibilidade às decepções da vida, bom, isso é particular. Existem aqueles que enxergam agulhas nas línguas alheias, como aqueles que não registram sequer o olhar de quem lhes dirigiu as palavras. E é fato que pessoas que sofrem de depressão, ansiedade, pânico, stress pós-traumático têm o chamado baixo limiar de tolerância às frustrações. Ou mais modernamente, têm baixo nível de resiliência. Com esses nomes, o que se quer expressar, é que são pessoas achatadas pela dor emocional sem energia para retornarem ao seu estado emocional anterior.
Pessoas muito sensíveis e com baixa resiliência usam de step para se manterem em pé e estruturadas nos momentos de crise. Esses alicerces são os artifícios mais facilmente alcançáveis em seu meio para sustentarem o equilíbrio. Para alguns a comida, para outros a bebida ou o cigarro.
A comida tem sido um dos objetos de apego mais acessível e de gratificação fácil. É compartilhada socialmente e incentivada culturalmente. Usada como agrado, presente, símbolo de acolhida e comemoração. Mas infelizmente, um alicerce de baixa qualidade que caiu em valor nutricional e é mau inspecionado pelos órgãos responsáveis.
Pessoas solitárias, estressadas, frustradas com o cotidiano da vida, conseguem na comida um meio de distração, gratificação, conforto de plenitude gástrica, ocupação e descarga através do movimento da mastigação. Após o ato alimentar, por mecanismos da digestão, elas se sentem menos agitadas e com mais facilidade para adormecer (desde que não haja empanzinamento e refluxo do conteúdo gástrico).
Atrás de uma pessoa que ganha peso não há um relaxo ou falta de cuidado, mas provavelmente uma dificuldade emocional, uma fragilidade existencial, uma solidão, estresse ou frustração. Engordar pode um pedido de socorro, mais que um desleixo, como julga o senso comum.
No entanto, não podemos linearizar ou generalizar. Festas, diversões, viagens e gandaia também levam ao ganho de peso. O que temos que averiguar sempre é a pessoa, sua estrutura e história perante o mundo que a cerca.
A pessoa em solidão sabe do que sofre. Ela não se engana. Apenas não sai falando de sua solidão aos quatro ventos. Assim como as sensíveis sabem de sua fragilidade. Mas também têm consciência de que o mundo não acolhe bem os de pouca casca. Foi daí que surgiu o conceito de sintoma psíquico, exatamente aquilo que cada pessoa ajeita para dar conta da sua existência, perante a dor pessoal a enfrentar. Uns a máscara, outros o peito erguido, outros ainda muitos quilogramas a mais.
Comments