Compulsões são substituídas ou compulsão é tudo igual??
- Simone D. Marchesini
- 21 de nov. de 2013
- 3 min de leitura
Existem algumas tentativas de explicar como se processa o mecanismo das compulsões. No plano psicológico contamos com diferentes teorias que tentam, por via da observação e da repetição de padrões, demonstrar verdades comportamentais do homem.
Aqui a referência será ao psicológico calcado na fisiologia, no substrato químico e elétrico do cérebro e toda sua mediação hormonal e imunológica, bem como na interação sofrida pelo meio.
Os processos cerebrais são intimamente ligados com os comportamentos. Isso é visível através da conduta de uma pessoa que, após algumas doses de bebida alcoólica, fica mais extrovertida, risonha ou piadista. Uma mulher em fase de menopausa, que tem seus hormônios alterados, também sente mudanças no humor, em sensações corporais, disposição física e até motivação.
No plano das compulsões o mecanismo é basicamente o mesmo. Elas estariam sedimentadas em circuitos cerebrais serotonérgicos, noradrenérgicos e dopaminérgicos, ou seja, aqueles que funcionam com neurotransmissores e fazem comunicações nervosas importantes, principalmente ligadas a gratificações e prazeres.

Comer, além de ser uma necessidade e fazer parte de um equilíbrio energético e do convívio grupal, é também um dos prazeres básicos de sobrevivência. Neste comportamento participam outras forças que são o querer, que faz a busca, e o gostar, que especifica a busca. Se não gosto de um alimento, para mim ele não é reforço e, portanto, não vou querê-lo. Assim, motivação, comportamento de busca, prazer, equilíbrio energético e reforço se enroscam nesse processo. Alguns estudos tentam comprovar que o consumo excessivo de comidas palatáveis podem desencadear respostas neuroadaptativas nos circuitos de recompensa do cérebro, de modo semelhante ao que ocorre com o álcool e outras drogas psicoativas. Nessas substâncias, reforço, prazer, busca, motivações e por vezes até equilíbrio do humor estão implicadas. Muito além das compulsões, dos receptores dopaminérgicos e do sistema canabinóide que foi mais recentemente enfatizado, estão os mecanismos sociais que reforçam e modificam nossa genética e nosso sistema natural de funcionamento.
A expressividade de nossa natureza depende dos estímulos do meio. Essa interação meio-cérebro tem surpreendido com o surgimento de doenças que nem nós mesmos supúnhamos que éramos capazes de produzir. Quando vemos que a alimentação moderna foi capaz de mudar os microorganismos do intestino e mudar preferências alimentares, perguntamos, será que no futuro teremos desejo por plástico sabor banana??
Existem sim muitos estudos que investem em pesquisas da Síndrome da Deficiência da Recompensa. Essa síndrome seria similar ao processo de vício à uma medicação que exige dose cada vez maior para surtir o mesmo efeito ou efeito similar. Aqueles que saturaram o mecanismo de prazer alimentar por excessivo estímulo acabam por necessitar de quantidades maiores e maiores da mesma substância para ter o prazer inicial.
Nada em ciência é conclusivo e verdade. Somos sempre passíveis de descobrir que é exatamente ao contrário!!
Não se pode dizer que o gênero feminino é mais ou menos dependente ou compulsivo, mas vemos que a motivação, a busca, o prazer e o desejo são diferentes em ambos os sexos. Brinco sempre que homens e mulheres não se encontram porque eles vão para a churrascaria e elas para a confeitaria.
Depois da cirurgia, ouvimos relados de desejos por chocolate e consumo de bebida alcoólica, além de compras por roupas. Temos que levar em conta as maiores oportunidades criadas por um corpo mais magro, autoestima maior, eventos sociais multiplicados. O obeso costuma comprar coisas que não necessita para não experimentar frustrações: sapatos, obras de arte, esmaltes, maquilagem, canetas, relógios ou presentes. Roupas se referem à “zona de frustração”, envolvem “exposição corporal”.
Se o consumo alcoólico pós-cirúrgico começar a causar problemas pessoais, familiares ou de trabalho, ele se torna disfuncional. Se as compras deixam de ser um comportamento adaptado e passam a chamar a atenção da família, provocar consequências desagradáveis, promover gastos excessivos, necessitarão de tratamento. O mesmo com as buscas sexuais ou a ausência delas.
O mágico e interessante nisso tudo é que os tratamentos medicamentosos usados para tratar consumo de álcool, drogas, obsessões e impulsividade estão sendo usados para diminuir a compulsão a comer. Hoje a combinação de Naltrexona com Bupropiona e Topiramato, mesmo que fora da recomendação da bula, está mostrando resultados interessantes. Ou seja, no cérebro, tudo está interligado, bem como no campo das emoções e nos demais sistemas no ser humano.
Simone Dallegrave Marchesini
CRP:08/04760
Educadora Artística pela UFPR
Psicóloga pela UTP
Especialista em Psicologia Clínica Psicanálise UFPR
Especialista em Psicologia Analítica (C.G.JUNG) pela PUC-PR
Mestre em Psicologia Social Comunitária UTP
Ex-Presidente das COESAS 2005/2006
Mestre em Psicologia Social Comunitária.
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